quinta-feira, outubro 08, 2009

O dia em que seremos eternos

Com o avanço da ciência e da medicina, talvez não esteja longe o dia em que teremos uma "expectativa de vida de duração indefinida".

Talvez daqui a 20, 50, ou mil anos, chegaremos a um ponto em que teremos tratamento anti-envelhecimento e substituição de órgãos, e talvez até rejuvenescimento, de forma que não teremos mais um limite definido para a vida.

Quando e se isso acontecer, imagino que poderiam acontecer diversas mudanças em nossos paradigmas sociais e individuais.
Embora seja evidente que os custos iniciais dos tratamentos sejam altos, a pressão popular e a alta demanda farão que em um período relativamente curto - falo de um século, em termos de humanidade - eles sejam universalizados.Veja a questão do tratamento da AIDS.

O primeiro deles seria uma valorização da vida, de cada indivíduo. Hoje temos um conceito sobre a vida, e a vida humana, como algo importante, especialmente quando cada um fala de si, mas não valorizamos a vida nas estatísticas.
Pensaremos melhor sobre o valor da vida do outro, de cada número na estatística. Afinal, aquela pessoa, se bem cuidada, poderia ter vivido indefinidamente.


Para mim, um outro conceito que mudaria é a idéia de propriedade. Paradoxalmente, em nossa curta vida, temos a ilusão de que as coisas nos pertencem, como se nós fossemos eternos e elas também.
 Com o passar do tempo, haveria uma percepção de que a posse das coisas é transitória: nós não as temos, estamos de posse delas.
Perceberíamos que de fato, não precisamos de muita coisa para sobreviver. A ilusão do acúmulo de riquezas na verdade se fundamenta em duas coisas: a primeira seria uma proteção contra a velhice (instinto de sobrevivência), e a possibilidade de deixar a herança para os filhos (sobrevivência da espécie).
Um terceiro aspecto, o de status social, deixa de ser relevante, quando se tem todo o tempo do mundo para aprender e alterar o padrão de vida.


No aspecto social, haveria uma mudança no padrão econômico significativa: trabalharíamos para viver, e não viveríamos para trabalhar, como nas sociedades capitalistas.
Com a expectativa de vida indefinida, a idéia de aposentadoria parece insensata.
Perceberíamos também que a ilusão de crescimento econômico contínuo, presente no paradigma capitalista, é realmente só um efeito inflacionário: na verdade a economia é de substituição: trocamos uma casa por outra, um móvel por outro, o alimento de ontem pelo de hoje, e a viagem do ano passado pela deste ano. Um brinquedo eletrônico por outro mais atualizado.

No âmbito familiar, haveria uma espetacular valorização da genealogia: afinal seus antepassados e descendentes estarão vivos! Como sociedade, teríamos que pensar melhor no planejamento familiar, pois aí sim, a capacidade do nosso planeta seria limitada. Talvez isso criasse um impulso para a exploração espacial, mas esse de qualquer forma seria um processo mais lento.

Fico imaginando, como seria alterado o papel da religião na sociedade. Afinal, muitas religiões baseiam sua fé na promessa de vida eterna, e quando ela realmente estiver disponível, elas alterariam seu foco de orientações de comportamento com base em uma promessa futura, para algo com reflexos na vida cotidiana.


O trabalho também teria uma mudança significativa. Atualmente, nos identificamos como sendo aquilo que nossa profissão ou atividade é. Dizemos que somos médicos, advogados, pedreiros, agricultores. Talvez muitas pessoas nunca mudem de profissão, mas essa identificação será menor, pois teremos cada vez mais pessoas que passarão por diversas especialidades, apenas pelo prazer de aprender e mudar.

É utópico? Provavelmente. A realidade sempre é mais dura, mas a idéia aqui seria apontar uma direção das mudanças.



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Atenciosamente

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Alexandre Andrade
Hipercenter.com

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