domingo, novembro 18, 2007

Redistribuição de renda e desenvolvimento sustentável

Tenho argüido repetidamente que não existe desenvolvimento sustentável sem redistribuição de renda. Vou tratar aqui de três formas de redistribuir a renda.

1. redistribuição via setor público. Através de políticas sociais diretas ou indiretas, a renda pode ser redistribuída, seja pelo fornecimento de serviços públicos, ou transferência direta para determinados setores da sociedade. Esse tipo funciona de forma mais ou menos sustentável na prestação de serviços públicos indiretos, e contribui para corrigir problemas pontuais na forma da transferência direta.

2. Outra forma de distribuição de renda é a própria distribuição dos salários dentro das organizações. O modelo americano de distribuição de salários é "o vencedor leva tudo", onde o topo da pirâmide pode chegar a ganhar até milhares de vezes do que a base da pirâmide. No modelo europeu, essa variação é menor, chegando na média, a cerca de 40 vezes (topo/base). Considero um modelo em que essa diferença seja menor um modelo mais adequado para o desenvolvimento sustentável.

3. Outra forma de distribuição de renda, não comumente abordada pela análise econômica tradicional, é o acesso ao emprego. Em uma economia mundial em que a produtividade é crescente, necessariamente se utiliza cada vez menos mão de obra para produzir a mesma quantidade de produtos e serviços. Embora o senso comum diga que as necessidades humanas são crescentes, e o marketing busque tornar isso verdade, deve haver um momento na história (não tenho dados para comprovar se no passado ou no futuro) em que a produtividade cresce mais do que as necessidades humanas. Seria essa a explicação para o desemprego estrutural. Pouca gente (+ tecnologia) seria capaz de produzir o suficiente para todo mundo. Qual a solução para se manter uma sociedade sustentável nessa situação? Menor carga de trabalho, de forma que mais pessoas tenham acesso ao emprego e à renda. No futuro (e em muitas áreas da economia moderna) a produtividade é tão alta, que se mantendo a carga de trabalho tradicional, é preciso cada vez menos pessoas. Só que excluir essas pessoas da economia não é sustentável. Redistribuir o trabalho, reduzindo a carga horária, mantendo a remuneração, e aumentando as horas de lazer, é um caminho que  imagino inevitável para uma sociedade sustentável . A solução para uma sociedade em que a população está envelhecendo não é aumentar o número de anos de trabalho para se aposentar, nem o tempo de contribuição, mas repassar o trabalho aos mais jovens, e mesmo assim, diminuir a carga horária destes. Eu brinco com a seguinte idéia: Segundo os judeus, quando Deus criou o mundo, ele deu o sábado ao homem para o descanso. Depois de Jesus, veio a Igreja Católica e deu o domingo ao homem para descansar. Um tempo depois veio Maomé, e deu a sexta feira. Em Brasília, já não se trabalha nem na segunda nem na sexta. Chegará o dia em que teremos que trabalhar somente dois dias na semana, e depois apenas um. E olhe lá.



--
=========================
Alexandre Miguel de Andrade Souza

Nenhum comentário: